“Na nossa conta corrente com a natureza raras
vezes lhe creditamos os muitos bens de que gozamos, mas nunca nos esquecemos de
debitar-lhe os poucos males que sofremos."
Marquês de Maricá
O que é a Geodiversidade?
O termo Geodiversidade é muito recente,
que começou a ser utilizado por geólogos e geomorfólogos na década de 90 para
descrever a variedade do meio abiótico. Assim, a geodiversidade é a
“variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão
origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos
superficiais que são o suporte para a vida na Terra”. Ou seja, é o “palco” no
qual todas as outras formas de vida são os “atores”. Desta forma, podemos
concluir que já se fala há muito tempo na biodiversidade e só agora tomamos
consciência de uma das suas bases, a geodiversidade!
Geodiversidade em Portugal
Portugal, embora seja um país de pequenas
dimensões, apresenta uma geodiversidade bastante notável representativa da
longa história geológica do planeta. De um modo geral, qualquer cidadão comum
consegue ter perceção das diferenças existentes entre o norte e o sul do país
assim como o interior e o litoral.
Deste modo, a divisão do relevo a norte e
a sul de Portugal é evidenciada pelo Rio Tejo, o norte é constituído por
altitudes superiores a 500metros em contraste com o relevo a sul que tem
altitudes muito mais modestas. Nas zonas litorais e nos vales dos principais
rios é ainda de salientar a predominância das zonas baixas. No que se refere à
ilha da Madeira é de destacar a existência de relevo acidentado, onde
predominam vales profundos com vertentes muito inclinadas, contrariamente às
ilhas dos Açores onde o relevo é muito mais suave.
Assim
sendo, as características topográficas do território português evidenciam,
desde logo, muitos aspetos relativos à geodiversidade. Estas características
estão relacionadas com o tipo de rochas que afloram à superfície, com o seu
grau de alteração, a ocorrência de acidentes tectónicos e de outros fatores.
Ameaças a Geodiversidade
Apesar do aspeto robusto da maior
parte das rochas e da sua aperência de resistência e durabilidade, a
geodiversidade está, muitas vezes, exposta a ameaças que advêm direta ou
indiretamente da atividade humana. Este aspeto não difere muito no que se
refere às ameaças para a geodiversidade ou para a biodiversidade. A
geodiversidade encontra-se ameaçada de diversas formas desde a degradação da
paisagem natural à destruição de um pequeno afloramento.
Exploração dos recursos geológicos
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As atividades de exploração dos
recursos minerais conduzem a uma destruição de parte importante da
geodiversidade. A necessidade de aquisição dos mais variados materiais
geológicos para posteriormente serem utilizados pelo Homem a nível do
desenvolvimento e conforto de que as sociedades industializadas usufruem
constituem um enorme impacto na geodiversidade.
Desenvolvimento de obras e
estruturas
Praticamente todas as grandes obras
induzem impactos negativos sobre a geodiversidade, a forma de minimizar estes
impactes está na projeção e execução destas obras. São variados os tipos
de intervenções que podem constituir ameaças à geodiversidade desde a abertura
de vias de comunicação, passando pela construção de barragens ou de edifícios
de grande envergadura. Uma das tendências, mais recentes em Portugal, é de
colocar betão nas barreiras das estradas ou em falésias, sem justificação técnica,
escondendo por completo os afloramentos.
Gestão das bacias hidrográficas
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Com o intuito de regularizar os
caudais e prevenir as cheias, algumas bacias hidrográficas portuguesas foram
sujeitas a enormes intervenções. Estas obras, com um grande impacto tanto na
geodiversidade como na biodiversidade, passam pela construção de barragens,
diques e canais que alteram a dinâmica natural dos cursos de água. A eficácia
destas intervenções é discutível pois, as cheias voltam nos anos seguintes
causando vários danos às populações.
Florestação, desflorestação e
agricultura
O crescimento da vegetação constitui
um fator de ocultação das caraterísticas geológicas de uma dada região por
outro lado, a desflorestação, promove a erosão dos solos. Embora as atividades
agrícolas tradicionais não constituem uma grande ameaça ao ambiente, o mesmo
não se pode dizer de uma agricultura intensiva e industrializada. Este tipo de
agricultura pode causar um impacte negativo nos solos, uma vez que a utilização
de maquinaria pesada leva à sua erosão e o uso intensivo de adubos e pesticidas
à deterioração da qualidade das águas superficíais e subterrâneas.
Atividades militares
O desenvolvimento de atividades
militares ocorre muitas vezes em zonas sensíveis tanto para a geodiversidade
como para a biodiversidade. Autilização de maquinaria pesada e os
bombardeamentos contribuem para o aumento da erosão de solos e a utilização de
munições, abandonadas no terreno, pode ter um impacto negativo na qualidade dos
solos e águas superficiais e subterrâneas.
Atividades recreativas e turísticas
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Colheita de amostras geológicas para fins não científicos
Esta atividade tem sido responsável
por uma verdadeira delapidação de um património natural que pertence a todos.
Devido ao facto de a formação de novos minerais, fósseis e rochas decorrer a
uma velocidade extremamente lenta, à escala humana, a taxa de recolha é
excessivamente superior à sua reconstituição. Posto isto, fósseis, minerias e
rochas são, portanto recursos naturais não renováveis.
Iliteracia cultural
A maior parte dos problemas e das
ameaças à geodiversidade seriam efetivamente menores se os responsáveis, dos
mais diversos níveis, possuíssem um mínimo de conhecimento técnico-científico
na área das Ciências da Terra ou, caso não tivessem, reconhecessem a
necessidade de chamar geólogos.
Geoparque
Geoparque é um conceito muito recente
(data de 2000) e, curiosamente, não é nem um parque no sentido mais usual da
palavra, nem estritamente geológico, apesar de ter uma componente
geológica,materializada pelos geossítios (afloramentos com valores especiais,
sob algum ponto de vista).
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Geoturismo
De maneira muito resumida, podemos dizer
que geoturismo é o turismo em que além da informação visual, o turista recebe
informações sobre a “base geológica” do que ele está a ver e sobre o valor e a
necessidade da sua proteção.
O geoturismo interage com diversas outras
vertentes do turismo de natureza, mas devido ao seu carácter educativo exige
uma boa preparação, que inclui não apenas o nível de informação a ser passado,
mas também a linguagem a ser usada.
O geoturismo procura minimizar o impacte
cultural e ambiental sobre as comunidades que recebem os fluxos turísticos,
inserindo-se no conceito mais alargado de turismo sustentável, que é
caracterizado por:
- Respeitar os destinos turísticospela aplicação de estratégiasde gestão de modo a evitar modificações nos habitats naturais, no património natural e paisagístico e na cultura local;
- Conservar os recursos e minimizar a poluição, o lixo, o consumo energético e o uso de água;
- Respeitar a cultura local e as tradições;
- Promover a qualidade em detrimento da quantidade.
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Dentro de outras peculariedades desta atividade, devemos sempre lembrar que o(a) geólogo(a) trata habitualmente, e com naturalidade, de dimensões espaciais e temporais absolutamente inimagináveis às vezes até para ele(a) próprio(a), e a transmissão dessa informação ao público leigo exige cuidados muito especiais.
Geoconservação
O ato de proteger e de conservar algo é
justificado porque lhe é atribuído valo, seja ele económico, cultural,
sentimental, estético, funcional, científico, educativo, ou outro. Uma vez que
a conservação é um estado de harmonia entre os homens e a terra. No caso
específico da geoconservação, esta visa a preservação da diversidade natural
(ou geodiversidade) de aspectos e processos geológicos (substrato),
geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo pela manutenção da evolução
natural desses aspectos e processos.
Uma das facetas da geoconservação pode ser
entendida como o bom senso aplicado ao uso dos recursos naturais. Pois, a
humanidade depende, em última análise, de recursos naturais para tudo. Há,
porém, que fazer um uso consciente deles, pois muitos são, na escala de tempo
humano, não-renováveis.
Outra faceta,importantíssima, é a
conservação que pode ser qualificar de pró-ativa e que consiste na promoção da
conservação de locais específicos e significativos.
Património Geológico
O Património Geológico é definido pelo
conjunto dos geossítios inventariados e caracterizados numa dada área ou
região.
É de saliemtar que o Património Geológico
integra todos os elementos notáveis que constituem a geodiversidade, englobando,
por conseguinte:
- Património Paleontológico;
- Património Mineralógico;
- Património Geomorfológico;
- Património Petrológico;
- Património Hidrogeológico.
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Não existe, em Portugal, uma estratégia de
identificação, caracterização e conservação do Património Geológico, o
conhecimento que existe encontra-se disperso e resulta de ações/trabalhos
pontuais. Porém estes trabalhos deveriam ser complementados com uma visão
integrada, a nível nacional, que possibilitasse uma Geoconservação estruturada
e bem suportada.
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